quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Era uma vez...

Era uma vez um ser humano chamado X. O que você precisa saber sobre ele? Nada. Ninguém tem o direito de se meter na sua vida. Ele vive, seu coração bate, ele ama, ele sofre, ele paga suas contas, ele chora, ele olha para os dois lados da rua antes de atravessar, ele morde o bocal da caneta, ele sente dor e sangra muitas vezes, ele xinga o governo, ele sabe das desigualdades sociais, ele se indigna, ele cala e fala quando preciso, ele sente medo... mas segue em frente. Um dia ele irá morrer e talvez sim, talvez não, seu nome será lembrado ou esquecido, contudo não importa, o que importa é que ele viveu.
Ele é ateu? Ele é cristão? É muçulmano ortodoxo? Candomblecista ou budista? Ele é heterossexual? Ele é homoafetivo? Ele é soro positivo? Ele é...? Ser ou não ser eis a questão? Não. Chega de rótulos vãos que limitam muito mais do que definem. Ele é humano e como tal deveria ser tratado. Mas sempre há um "Mas". Ele não é.
X só quer viver e ser feliz, de resto, será que importa mesmo sabermos? Creio que não.
Então, que tal deixarmos o menino jogar? Espero que ele nunca precise pedir permissão para viver sua singularidade e exercer sua identidade, seja ele quem for.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Querido Papai Noel...

Talvez eu esteja velha demais para escrever esse tipo de carta, talvez utilizar-me desse argumento seja só uma desculpa para não escrever, mas certa vez li que se você acredita em anjos, eles existem. Eu escolho acreditar.
Não vou pedir celulares ou computadores, também não estou aqui para gritar aos quatro ventos como o Natal perdeu completamente o seu sentido e foi vendido às multinacionacionais a preço de banana. Não vou falar de como a mídia se utiliza de subterfúgios para definir o perfil do Natal perfeito, massificando até mesmo esse feriado, para muitos, sagrado. Não vim dizer nada disso ou pedir o fim do capitalismo ou mesmo dizer que, com essa barba, o senhor fica a cara do Karl Marx.
Venho por meio desta pedir que as pessoas percebam umas às outras e notem a sua capacidade de amar ao menos durante esse dia. Se cada luzinha que penduramos em nossas casas, por menor que seja, representasse o sonho de alguém, o singelo pedido feito na noite escura; se cada luz fosse um sinal de esperança frente ao ano que termina e o outro que começa; se cada um reconhece no outro a capacidade de acreditar num futuro melhor e nesses últimos dias do ano se põe a pensar sobre os erros e acertos ao longo dele e começa a ter fé, então tudo isso vale a pena. Não há apenas o lado comercial como muitos gostam de pregar, porque as pessoas não são mercadorias. Às vezes, as pessoas muito se apegam às mazelas do mundo e se esquecem que cada um tem a sua responsabilidade sobre elas, se esquecem que as críticas são importantes, mas se elas não deixarem de ser apenas discursos para se tornarem ações, jamais terão qualquer efeito.
Sim, eu acredito no Natal, mas não por ser Natal, mas porque acredito na capacidade humana de humanamente amar. Então, bom velhinho, é isso que peço: que as pessoas reconheçam em si essa capacidade.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Não sei ao certo o que dizer, talvez não deva dizer nada, aproveitar o momento para ouvir o silêncio e esperar que suas palavras ecoem por toda a eternidade em mentes e corações. Nelson Mandela... foi um prazer ter existido em um mundo em que tenha colocado seus pés e presenteado o mundo com a sua vida. Fará falta, mas em morte viverá para sempre, pois estará para sempre no pensamento daqueles que entendem que o amor não tem cor ou gênero. Sim... somos todos irmãos, acho que é isso que o senhor diria.
Quando uma estrela sai da Terra e vai para o céu, passo a olhá-lo a noite esperando reconhecer nele o novo brilho. Apoio-me na janela esperando, assim, conseguir estar um pouco mais próxima dessa nova estrela que mudou de casa para vislumbrar novos horizontes.
Quando uma estrela sai da Terra e vai para o céu, tento desenhar mentalmente os seus traços, pois a tamanha distância não consigo distingui-los daqui, e espero que outros façam o mesmo, porque, caso eu esqueça, alguém irá lembrar.
Quando uma estrela sai da Terra e vai para o céu, inicialmente não acredito e espero que tenha sido engano, erro, mas não... essas estrelas são dinâmicas demais para se permitir ficar em um único lugar. Elas querem que seu brilho invada o universo e permita que olhos no escuro descubram, em si, a capacidade de enxergar e possam ver o que antes era oculto.
Quando uma estrela sai da Terra e vai para o céu, pergunto-me indignada o que haveria de tão bom nesse céu para que a estrela não ficasse aqui conosco só mais um pouquinho... não parece pedir muito, então porque ela haveria de ir? A resposta vem em forma de silêncio e fé.
Quando uma estrela sai da Terra e vai para o céu, fecho os olhos e não esqueço, pois lembrar é fazer justiça.

Conjecturas de uma capitolina

Olha nos meus olhos e vê unicamente dissimulação.
“Olhos de cigana oblíqua e dissimulada” são os sons que ouço sair da sua boca, mas conhece a minha história? Sabe que por trás de tais olhos existe uma alma? Um coração de maré, cuja ressaca incontrolável chega aos olhos? É isso que vês? Não. Vê a doce dissimulação e como eu poderia negá-la? Sim. Dissimulada sou. Porto máscaras frente a pessoas que pouco se importam com o que elas escondem. Sorriu quando quero chorar, pois de nada adiantam lágrimas quando não há quem as seque. Ocultas elas estão, nem mesmo vocês, caros juízes do mundo podem vê-las, então julgam o sorriso falso no rosto da boneca de porcelana que pensam que sou. Não sabia que bonecas choravam, sofriam, amavam, sangravam, mas pouco importa, eles também não sabem nada.
Não sabem, por exemplo, que gosto do balançar dos meus cabelos contra o vento e quando corro muito rápido quase posso voar. Não sabem que esses olhos de ressaca escurecem com as lágrimas que brotam deles quando o coração não mais suporta tão maus julgamentos (ou seriam julgadores?). Não sabem que em menina já era mulher, mas mulher-menina ao crescer sempre fui, sentindo sempre o doce primeiro amor ao meu lado. Um amor que existia dentro de mim: o amor próprio. Não sabem também que sofro de amor e por amor vivo, mesmo quando dele morro ao saber que ele é só mais um julgador. Até onde vai a arrogância humana que não permite ver nada além das máscaras?
Sim... cigana oblíqua e dissimulada sou, assim como vocês, doces juízes da lei.