terça-feira, 12 de junho de 2012


"Ele havia acabado de chegar a festa. Via a alegria estampada nos rostos das pessoas, a beleza de seus sorrisos, alheios aos seus sentimentos.  O tempo parecia passar em câmera lenta. Onde estaria a sua alegria?
                Ele se perguntava se tinha feito a coisa certa. Agora ela deveria estar em casa, toda orgulhosa com seu feito, ou com seus pais comemorando. Enquanto ele estava ali, com cara de enterro no meio da festa, triste... confuso. E se ele tivesse feito a coisa errada?

                Ela estava desesperada, pensando que o havia magoado de alguma forma incompreensível e irremediável para ele tomar uma atitude como aquela. Mas e se ele tivesse feito por que gostava dela?
                Ela não queria pensar nisso. O amava, sem sombra de dúvidas, contudo não agüentaria sofrer mais uma decepção. Seus olhos se encheram de lágrimas a medida que ela deslizava os dedos pelas teclas do celular, queria respostas mas tinha medo delas.
“Por que fez isso?...

... Por que saiu daquele jeito? Me responde pelo menos para eu saber que você está vivo!” A medida que lia, ele quase podia ouvi-la chamando-o de idiota. Sempre preocupada demais com os outros, ela se preocupava com ele agora como se preocuparia com qualquer um. Não havia nada de incomum na atitude dela, ele não tinha motivos para ficar feliz com sua preocupação. Além disso, essa qualidade só tinha servido como desculpa para muitas de suas inúmeras brigas.               
                Ele não responderia aquela mensagem de texto, achava melhor assim. O que ele pensava, que ela gostava dele? Não podia se iludir, não mais. Ele sabia que ela só estava curiosa ou preocupada com seu bem-estar.
                Ele foi até o barman e tomou um coquetel com álcool. Se estava decidido a não responder teria de tomar algumas doses de “coragem”. O celular tomou novamente: “EU TENHO O DIREITO DE SABER!!”
                Ela e os seus direitos. Aquela mensagem merecia mais uma dose. Quantas ele tomaria até o fim da noite?

                Por que diabos ele não respondia? Se algo de ruim tivesse lhe acontecido ela se mataria. Tudo bem. Ela não se mataria, mas dizer que seu coração quebraria não era exagero. As perguntas fervilhavam em sua mente e a impotência dominava seu corpo. Onde ele estaria? Ela desejava que estivesse melhor do que ela. Talvez ele tivesse ido a festa e uma hora daquelas estava se divertindo com outra garota. Alguém que pudesse lhe sorrir sem medo, alguém que pudesse tocar seu rosto e dizer coisas gentis, alguém que soubesse dançar, alguém que o beijasse e o merecesse.
                “Esse alguém que o fará feliz não poderia ser eu” Ela pensou e a primeira lágrima caiu.

                Como ele queria merecê-la! Daria tudo para isso.

                Ela queria merecê-lo.

                Mas era difícil demais, ela era boa demais.  Boa demais para ele. Isso ficara claro durante cada dia dos últimos meses. Ela era inocente, esforçava-se muito para fazer as coisas certas a ponto de exigir demais de si mesma e pagar um preço caro por isso. Diversas vezes ele tinha visto-a chegar no limite. Ela era boa como ele nunca seria.
                Pegou o celular...

                ..."Sem perguntas”? Como assim “sem perguntas”? Ela devia tê-lo magoado de verdade, e isso doía mais que qualquer coisa. O relógio marcava meia-noite, a hora dos mortos, já não sentia o coração bater como antes. Então resolveu fazer a única coisa que podia, ser totalmente sincera com ele pela primeira e última vez: “Será que não percebe que gosto de você? Todas as vezes que lhe pedi desculpa pelas besteiras que fazia na verdade pedia perdão por gostar tanto de você. Então, pela última vez, perdoe-me... perdoe-me por amar você”.
                Ela esperava uma resposta, qualquer que fosse. Ela merecia uma resposta por mais que machucasse.
                Mas o que recebeu foi o frio silêncio.
                Será que havia errado contando tudo? Será que ele não sentia o mesmo? A resposta estava dada, ela percebeu, em forma de silêncio.
                A última lágrima caiu a medida que a pobre criança adormecia de coração partido. Antes, porém, a Razão lhe alertara: “Vocês não ficarão juntos mesmo que ele a ame. Você tem responsabilidades e sonhos dos quais não pode abrir mão por ele. Não é hora de paixões”

                Ao receber a mensagem, ele mal acreditava no que lia. Duvidava que ela pudesse amá-lo na mesma intensidade que ele a amava, mas ela gostava dele. Já era um começo, não é?
                Seu coração pedia para ele ir atrás dela naquele momento, mas ele hesitou, estava tarde e antes ele precisava dar a boa notícia à pessoa que mais lhe apoiara, essa pessoa era o professor dos dois e fizera todo o possível vê-los juntos, mas quando ele contou a história, o que recebeu foi um olhar carregado da mais pura tristeza e... pena.
―O que foi, professor? Não está feliz por mim?
―Estou, mas triste por ela. ―O professor desviou os olhos de seu aluno.
―Por quê?!
―Próximo ano, ela estará no terceiro ano, ano de vestibular. Haverá pressão de todos os lados em cima dela. Passar no vestibular é seu sonho, mas... ―O professor voltou a olhar o garoto nos olhos. ―Mas se ela realmente te amar, ela vai se entregar a esse amor de corpo e alma. Você a conhece, sabe como ela é, ela nunca se entrega pela metade. Ela desistiria dos próprios sonhos para estar com você.
                Ele segurava as lágrimas diante da realidade dos fatos, ela não estava pronta para ter um relacionamento. Se ela o amava abriria mão de tudo por ele, entretanto se ele a amava teria de abrir mão dela para que ela não desistisse de si mesma.
                A vida era cruel, sem dúvidas.
―Então espere. Espere por ela durante esse ano. Se o amor for forte o suficiente vocês ficarão juntos, se não...
                A única forma de merecê-la seria desistir dela! Mas não era só isso, ele sabia que ela faria o mesmo por ele.
                Dirigindo um último olhar para o professor, foi para a sacada.
                Lá pode chorar suas lágrimas. A decisão estava tomada, mas a dor causada por ela era tão grande que ele esqueceu de dar a menina qualquer satisfação.
                Tudo que restou para ela foi o silêncio e a certeza de um amor não correspondido, quando, na verdade, havia ganhado a maior prova de amor que ele poderia lhe dar." Sophie S.R

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