quarta-feira, 14 de maio de 2014

Entre desalinhos

Havia um fiapo. Convivi com isso enquanto o agasalho cabia. A inquietude, contudo, atinge as pessoas. Ataquei o fiapo, puxando distraidamente. Entre linhas, me vi desnudada por mim. Vi o corpo cheio de simples e complexas cicatrizes, tão minhas quanto do mundo que as causou. Quase afogada pelas linhas do moletom, tentei respirar fora de mim. É a busca do sopro da vida, loucura do mundo de normais. Olhei ao redor e todos tão belamente vestidos se afastavam horrorizados com a desalinhada. 
-Aqui não há espaço para você. -Gritavam. 
Entre desalinhos, com o coração exposto, frio e quente, marcado pelo tempo incontável, doce e só. Entre desalinhos, perdida em mim. Em que lugar começariam tantas linhas? Onde terminariam as entrelinhas? Cadê todos os nós? Mas segui. Pegaram tesouras e tentaram cortar as linhas. 
-Você é um perigo! Quer perverter a ordem! Insurgente! - Gritavam então. -Anormal! Antissocial...!
Tentei remedar as linhas; mas, ao ver as tesouras, corri desembalada. Não queria ser arrumadinha. Como poderia permitir que cortassem minhas linhas se, entre elas, eu sou. Mas encontrei outros tantos desalinhados e vi beleza neles. 
Haveria tal beleza em mim? 
Entre desalinhos, aprenderei, com meu sentimento de mim

domingo, 11 de maio de 2014

Feliz dia das mães...


Feliz dia das mães!!
E como tal, não poderia deixar de escrever, mas não vou falar sobre como elas são maravilhosas - em sua maioria, elas são -, ou de como é só mais um artifício do mundo capitalista estabelecer um dia para as mães -sim, é, eu sei -, ou mesmo que dia das mães é todo dia.
Bem... com o grupo Os porta-sorrisos temos ido a um orfanato há quase um ano e não pude deixar de pensar nas crianças de lá em dias como hoje. Deve ser confuso e assustador. Meio injusto também. E elas sabem disso, porque em momentos como esse sobre muita falta em seus corações (falta de carinho, amor, atenção...). Logo elas que inúmeras vezes tem de crescer tão cedo, que não tem quem as proteja, oriente, guie. Não pensar nelas seria não lhes fazer justiça.
Então haverá quem diga: "Mas se preocupar com isso é papel do Estado!", é papel do Estado dar segurança, saúde e educação de boa qualidade também, por isso que as pessoas não morrem mais nas filas dos postos de saúde e o Brasil tem um dos maiores níveis de alfabetização do mundo, não é? Por isso nós votamos tão bem que os casos de corrupção nas instâncias superiores de poder são tão raros, né?
Deveríamos cuidar melhor das nossas crianças, não apenas porque elas serão o futuro da nação, mas porque são seres humanos - frágeis que precisam de atenção, oportunidade, amor e esperança, quando muitas vezes não os têm.
Há crianças nas ruas, no semáforos, se prostituindo. Há crianças nas carvoarias do nordeste e do norte, nos mercados clandestinos do sudeste e do sul. Há crianças que são apenas crianças, mas não podem viver como tal. Muitas delas não vivem.
Não podemos esquecer das nossas crianças.
E nesse dia das mães, estarei com a cabeça nelas, na expectativa infantil de que consigam ficar bem e que a esperança não se desfaça.
Ps: não me importo se ninguém ler esse texto. Ele não é parar ser lido, mas sim para ser sentido. E não... a junção de meras palavras vindas de uma pessoa qualquer pode - e provavelmente não vai - mudar nada, mas há coisas que precisam ser ditas.