sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Meu presente de Natal, aos meus Caros Estranhos...

"A Palhacinha e o Leão

Na noite da véspera de Natal, o menino sorrateiro como um camundongo vasculhava a árvore de Natal a procura de seus presentes. Agia rápido como só um garoto em apuros saberia ser. Caso sua mãe lhe pegasse ali, ele ganharia uma bela surra, mas perderia os presentes.
E ali estavam.
Abriu primeiro o azul, para descobrir nele uma linda palhacinha. Estranhou o presente e leu novamente o nome no pacote. Xingou, aquele era o presente da sua irmã.
Deixou-o de lado e abriu o embrulho seguinte, o vermelho, e encontrou um imponente leão de brinquedo. Seus olhos se iluminaram de alegria, o leão era tão real que ele quase podia ouvi-lo rugir.
―Uaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...
Opa! Não era o leão rugindo, era sua mãe bocejando e descendo as escadas. O garoto escondeu os brinquedos no fundo da árvore e fugiu para a cozinha, onde esperava que sua mãe não pudesse encontrá-lo.
A mãe, ouvindo a quietude, voltou para o quarto e dormiu.
Era uma linda e encantadora noite. A véspera de Natal, para quem não sabe, é o dia mais mágico do ano, porque nele as pessoas desejam e sonham mais intensamente e tudo se torna possível. Aquele era o momento em que a magia estava no ar, nas ruas da cidade, nos sonhos das crianças - inclusive nos da que dormia no chão da cozinha, mas principalmente naquela pequena sala, pois quando a mãe sonolenta fechou a porta do quarto, os objetos ganharam vida.
O Leão e a Palhacinha levantaram como que acordando de um longo sono.
―Não acredito, estou vivaaaaaaaaaaaa! ―Gritou a Palhacinha.
Ela olhava ao redor admirada com sua nova casa, era tudo enorme! Então ela notou o Leão. Nunca tinha visto algo tão lindo, seu pelo era macio e brilhante, seus olhos tão grandes...
―O que tanto olha criatura? ―Perguntou o Leão em um tom soberano.
―Eu não sou uma criatura, sou uma palhaça. O que você é?
―Sou o Leão, um rei por natureza...
―O que é um rei? ―Perguntou-lhe intrigada.
O Leão não gostava de ser questionado, como aquela criatura podia não saber o que era um rei? Todos sabiam o que era um rei!
―Um rei... bem, um rei... ―O Leão estava desconcertado, talvez por não saber ao certo o que era um rei. ―Reis servem para... Reis servem para mandar. Eles dizem às pessoas o que fazer e elas obedecem.
A Palhacinha pensou um pouco sobre o assunto até chegar a uma conclusão:
―Não parece divertido. Você manda nos outros e eles obedecem, mas eles não têm opção? E se você estiver errado? Parece bem difícil...
O Leão rugiu tão alto que todos os enfeites da árvore estremeceram.
―Reis nunca erram!
―Tá bom, não precisa se aborrecer. ―A Palhacinha ainda tapava os ouvidos com as mãos. ―Não está mais aqui quem falou.
Ela começou a andar, estudando a sala. Ouvia sons vindos de todos os lados, havia vida em todo lugar. O Leão a seguiu, contudo logo tomou a frente, afinal reis nunca andavam atrás de ninguém.
À medida que andavam, as criaturas ao redor, principalmente as fadas da árvore de Natal cochichavam, riam e os olhavam.
―Do que elas estão rindo? ―Perguntou a Palhacinha.
―Não importa.
―Importa sim! Fazer as pessoas rirem é o motivo pelo qual vivo, esse som faz com que tudo valha a pena, é ele que quero ouvir todos os dias da minha vida. ―A Palhacinha abaixou a cabeça ―É importante pra mim.
Uma chama brilhava nos olhos dela e nem o Leão, com toda a sua arrogância, ousou menosprezá-la. Na verdade, ela tinha deixado-o sem palavras. Então ele se dirigiu a uma das fadas mais próximas e perguntou:
―Do que tanto riem?
A Palhacinha sorriu feliz sem entender exatamente o por quê daquela felicidade, ela não se dava conta de que o Leão estava fazendo aquilo por ela.
Nunca o Leão havia se importado com coisa alguma além dele mesmo, a vaidade lhe cegava não permitindo que ele visse o mundo e as pessoas ao seu redor. Mas agora ele sentia um formigamento no peito que ele não sabia o que era ou de onde vinha, pensou até que estivesse doente, mas não estava. O motivo daquela sensação era preocupação com os sentimentos da Palhacinha. E ela nem notava a mudança radical provocada no Leão, estava encantada demais com a sua atitude para perceber.
―Rimos de vocês. Nunca vimos casal mais improvável, um leão que se diz rei, mas foi desafiado por uma palhaça e a própria que é uma piada por si só.
O Leão rugiu feroz tão furioso que não conseguiu dizer nada, apesar de sentir-se machucado pelas palavras da fada, arrastou a Palhacinha dali.
―Não entendo. Do que eles riem? ―Perguntou ela.
O Leão olhou triste para a Palhacinha, tentando entender como poderia alguém ser tão inocente.
―Estão rindo de nós dois.
Ele sentiu vontade de abaixar a cabeça, mas reis não abaixam a cabeça por mais doloridos que estejam. Depois de um tempo calada, a Palhacinha disse:
―Não é tão ruim assim. Seria pior se não sorrissem. São tristes as coisas que não sorriem.
O dia estava perto de amanhecer quando o Leão e a Palhacinha sentaram no para-peito da janela. Os primeiros raios de sol já eram visíveis e todos sabem que quando amanhece o dia de Natal a magia se perde, as pessoas deixam de acreditar. Pela primeira vez, a Palhacinha não sorria.
―O que há com você? Exijo saber!
―Eu sou uma palhaça, faço as pessoas rirem, mas estou com medo. Quando eu tiver triste...
―Como agora?
―Sim, como agora, quem vai me fazer sorrir?
O Leão olhou em seus olhos ao responder.
―Seus amigos acho.
―O que são amigos?
O Leão pensou e pensou, e não conseguiu achar a resposta, pois ele próprio não tinha amigos.
―É complicado... ―Respondeu ele, finalmente.
A Palhacinha voltou a sorrir, desta vez com os olhos e com o coração.
―Quer ser meu amigo?
Mais tarde enquanto guardava os brinquedos nas caixas antes de seus pais acordarem, o menino traquina percebeu que o rosto do Leão estava banhado de orvalho. Ou seriam lágrimas? Ele não saberia dizer. "

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